sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Rodadas de Poema com Ferreira Gullar




De Ferreira Gullar
Poema Sujo – um fragmento: “Velocidades”
Parte III





        É impossível dizer
em quantas velocidades diferentes
        se move uma cidade
                           a cada instante
                           (sem falar nos mortos
                           que voam para trás)
                           ou mesmo uma casa
onde a velocidade da cozinha
não é igual à da sala (aparentemente imóvel
nos seus jarros e bibelôs de porcelana)
         nem à do quintal
         escancarado às ventanias da época


                   e que dizer das ruas
de tráfego intenso e da circulação do dinheiro
e das mercadorias
         desigual segundo o bairro e a classe, e da
         rotação do capital
         mais lenta nos legumes
         mais rápida no setor industrial, e
         da rotação do sono
         sob a pele,
         do sonho
         nos cabelos?


         e as tantas situações da água nas vasilhas
         (pronta a fugir)


                 a rotação
         da mão que busca entre os pentelhos
         o sonho molhado os muitos lábios
         do corpo
         que ao afago se abre em rosa, a mão
         que ali se detém a sujar-se
         de cheiros de mulher,
                  e a rotação
         dos cheiros outros
         que na quinta se fabricam
         junto com a resina das árvores e o canto
         dos passarinhos?

Um comentário:

  1. Bonita a tua reflexão.
    Parabéns, do meu ponto de vista você acertou em muitas coisas.
    Seu blog é fascinante, gostei muito dele e estou seguindo!
    Tenha um final de semana maravilhoso
    E continue sempre postando, vou estar sempre aqui curtindo suas ideias!

    beijinhos

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