segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Rodadas de Poema com Ferreira Gullar



De Ferreira Gullar
Universo



 

 “E assim, assustado e mudo,
bem menor que um ínfimo
grão de poeira, contudo,
sou capaz de apreender, no meu íntimo,
essas incontáveis galáxias,
esses espaços sem fim,
essa treva e explosões de lava.
Como tudo isso cabe em mim?
O fato é que qualquer vasta nuvem
prenhe de sóis já mortos ou futuros
não possui consciência, esse obscuro
fenômeno surgido aqui na Via Láctea,
ou melhor, na Terra, e talvez
somente nela, não se sabe por que,
mas que permite ao cosmos perceber-se
a si mesmo, e ter olhos pra se ver.”
“Somos algo recente e raro
no universo, como rara
é também a própria luz
dos sóis deste sol que nos aclara.
Todo universo é treva.
Inalcançável vastidão escura
dentro da qual os sóis, as explosões
de gás e luz são exceções.”
“Vi pouco do universo: afora a asa
de luz e pó da via Láctea, o que conheço
são as manhãs que invadem minha casa”

Ferreira Gullar, em “Em Alguma Parte Alguma”

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