sábado, 31 de março de 2012

Rodadas de Poemas

        Apontamento

       A minha alma partiu-se como um vaso vazio.
       Caiu pela escada excessivamente abaixo.
       Caiu das mãos da criada descuidada.
       Caiu, fez-se em mais pedaços do que havia loiça no vaso. 
       Asneira? Impossível? Sei lá!
       Tenho mais sensações do que tinha quando me sentia eu.
       Sou um espalhamento de cacos sobre um capacho por sacudir.
       Fiz barulho na queda como um vaso que se partia.
       Os deuses que há debruçam-se do parapeito da escada.
       E fitam os cacos que a criada deles fez de mim. 
       Não se zanguem com  ela.
       São tolerantes com ela.
       O que era eu um vaso vazio? 
       Olham os cacos absurdamente conscientes,
       Mas conscientes de si mesmos, não conscientes deles. 
       Olham e sorriem.
       Sorriem tolerantes à criada involuntária. 
       Alastra a grande escadaria atapetada de estrelas.
       Um caco brilha, virado do exterior lustroso, entre os astros.
       A minha obra? A minha alma principal? A minha vida?
       Um caco.
       E os deuses olham-o especialmente, pois não sabem por que ficou ali.

      Álvaro de Campos


sexta-feira, 30 de março de 2012

Socializando Poemas


Poema enviado por: Valdelice Gomes
Aluna III etapa de EJA.

A nossa língua portuguesa

 
NOSSA LÍNGUA PORTUGUESA:
SOU AQUELE SERTANEJO
DISTANTE DE SER BURGUÊS
QUERENDO SABER DE TUDO
SÓ SE "HELLOW" NO INGLÊS
SOU PÉSSIMO EM DIALOGAR
MÁS POR TEIMA EU VOU FALAR
DO QUE SEI DO PORTUGUÊS.

NÃO DOMINO O PORTUGUÊS
E NEM CLASSES GRAMATICAIS
A SEMÂNTICA E A SINTAXE
ACHO DIFÍCEIS DEMAIS
MÁS VOU COM OBJETIVO
FALAR DE SUBSTANTIVO
VERBO,ARTIGO E OUTROS MAIS.

TEM TAMBÉM OS NUMERAIS
PRONOME E INTERJEIÇÃO
ADVÉRBIO E ADJETIVO
E A TAL DA PREPOSIÇÃO
E PRA NÃO COMETER EMPASSES
FECHO O CICLO DAS DEZ CLASSES
FALANDO DA CONJUNÇÃO.

SÓ EXISTE A ORAÇÃO
SE O VERBO ESTIVER PRESENTE
MÁS SE OLHAR DIREITINHO
TEM MAIS DE UM COMPONENTE
TEM NÚCLEO DO PREDICADO
SUJEITO INDETERMINADO,
O SIMPLES E O INEXISTENTE.

FICO DE CABEÇA QUENTE
SUBINDO O NÍVEL DE ESTRESSE
QUANDO A PALAVRA HOMÔNIMO
NO MEU JUÍZO APARECE
CHEGA ME DÁ UM APERTO
SEI QUE SE ESCREVE CONSERTO
COM "C" E TAMBÉM COM "S".

OUTRA QUE ME ENLOUQUECE
É A PALAVRA SESSÃO
SE ESCREVE DE TRÊS MANEIRAS
CAUSANDO EM MIM CONFUSÃO
CESSÃO COM "C" ME APARECE
COM "Ç" E DOIS "S"
JÁ DEI A DEMONSTRAÇÃO.
PRA SE ESCREVER REDAÇÃO
TEM QUE FICAR BEM ATENTO
DO TÍTULO E DA INTRODUÇÃO

NÃO FUGIR NEM UM MOMENTO
PRESTAR BASTANTE ATENÇÃO
QUE ANTES DA CONCLUSÃO
VEM-SE O DESENVOLVIMENTO.

TODAS QUE LEVAM ACENTO
SÃO AS PROPAROXÍTONAS
NA PENÚLTIMA SÍLABA FORTE
CONHEÇO AS PAROXÍTONAS
VOU SEGUINDO A DEUS DARÁ
CAFÉ,FORRÓ E SOFÁ
SÃO EXEMPLOS DE OXÍTONAS.

ASSIM COMO AS OXÍTONAS
VOU REPRESENTAR TAMBÉM
A CLASSE DOS MONOSSÍLABOS
QUE NA MINHA MENTE VEM
DONOS DE UMA SÍLABA SÓ
TIPO CHÁ,PÁ,PÉ E PÓ
PIA,PAU,LAR,BAR E CEM.

NO PORTUGUÊS VOU TAMBÉM
FALAR DA CONOTAÇÃO
É O SENTIDO FIGURADO
PARA QUALQUER EXPRESSÃO
DE UM CONCEITO ORIGINAL
QUE NO SENTIDO REAL
MOSTRA NA DENOTAÇÃO.

IGUAL A NOSSA NAÇÃO
QUE HERDOU DE PORTUGAL
O PORTUGUÊS QUE FALAMOS
DE UMA MANEIRA GERAL
DO MESMO JEITO SE NOTA
QUE ANGOLA TAMBÉM ADOTA
COMO A LÍNGUA OFICIAL.

SE FALA EM GUINÉ-BISSAU
O NOSSO PORTUGUÊS CHIQUE,
CABO VERDE E TIMOR LESTE,
E ANTES QUE ALGUÉM ME CRITIQUE
É FALADO EM SÃO TOMÉ
E POR ÚLTIMO TAMBÉM É
NO PAIS DE MOÇAMBIQUE.

ANTES QUE ALGUÉM ME CRITIQUE
ME CAUSANDO UM CERTO TÉDIO
QUERO AVISAR AO LEITOR
SÓ TENHO O ENSINO MÉDIO
TENHO FOME POR SABER
E QUEM QUISER APRENDER
LER É UM SANTO REMÉDIO.

Júnior Adelino (SP.28.02.2012)


Enviado por Grace Costa
Professora de Língua Portuguesa

Rodadas de Poemas



O GONDOLEIRO DO AMOR

Teus olhos são negros, negros,
Como as noites sem luar...
São ardentes, são profundos,
Como o negrume do mar;
 
Sobre o barco dos amores,
Da vida boiando à flor,
Douram teus olhos a fronte
do Gondoleiro do amor.
 
Tua voz é a cavatina
Dos palácios de Sorrento,
Quando a praia beija a vaga,
Quando a vaga beija o vento;
 
E como em noites de Itália,
Ama um canto o pescador,
Bebe a harmonia em teus cantos
O Gondoleiro do amor.
 
Teu sorriso é uma aurora,
Que o horizonte enrubesceu,
-Rosa aberta com o biquinho
Das aves rubras do céu.
 
Nas tempestades da vida
Das rajadas no furor,
Foi-se a noite, tem auroras
O Gondoleiro do amor.
 
Teu seio é vaga dourada
Ao tíbio clarão da lua,
Que, ao murmúrio das volúpias,
Arqueja, palpita nua;
 
Como é doce, em pensamento,
Do teu colo no languor
Vogar, naufragar, perder-se
O Gondoleiro do amor!?...
 
Teu amor na treva é - um astro,
No silêncio uma canção,
É brisa - nas calmarias,
É abrigo - no tufão;
 
Por isso eu te amo querida,
Quer no prazer, quer na dor...
Rosa! Canto! Sombra! Estrela!
Do Gondoleiro do amor.
  

CASTRO ALVES

Recife, janeiro de 1867.
in Espumas Flutuantes - 1870.

 
Referências Italianas e os Olhos Negros da Amante Portuguesa
O poema é uma barcarola dedicada a Eugênia Câmara, atriz portuguesa
e o grande amor de Castro Alves. 

quinta-feira, 29 de março de 2012

Socializando Poemas

Meus oito anos


Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!


Como são belos os dias            
Do despontar da existência!     
— Respira a alma inocência      
Como perfumes a flor;
O mar é — lago sereno,
O céu — um manto azulado,
O mundo — um sonho dourado,
A vida — um hino d'amor!


Que aurora, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d'estrelas,
A terra de aromas cheia
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!


Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias                                            

De minha mãe as carícias                                       
E beijos de minhã irmã!


Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberta o peito,
— Pés descalços, braços nus —
Correndo pelas campinas
A roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!


Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo.
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!


................................


Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
— Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
A sombra das bananeiras
Debaixo dos laranjais!


 Casimiro de Abreu

Poema enviado por: Geane Cruz
Aluna III etapa EJA







Rodadas de Poemas



 
Retrato

"Eu não tinha este rosto  de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
Em que espelho ficou perdida a minha face?"

Cecília Meireles



Poema de Cecília Meireles por Paulo Autran

quarta-feira, 28 de março de 2012

Socializando Poemas


Traze-me

Traze-me um pouco das sombras serenas
que as nuvens transportam por cima do dia!
Um pouco de sombra, apenas,
- vê que nem te peço alegria.
Traze-me um pouco da alvura dos luares
que a noite sustenta no teu coração!
A alvura, apenas, dos ares:
- vê que nem te peço ilusão.
Traze-me um pouco da tua lembrança,
aroma perdido, saudade da flor!
-Vê que nem te digo – esperança!

-Vê que nem sequer sonho – amor!
Cecília Meireles






















     
      






Poema enviado por: Dacilene Maria do Nascimento Paz
Aluna da III etapa de EJA.

Socializando Poemas


O sonho

Sonhe com aquilo que você quer ser,
porque você possui apenas uma vida
e nela só se tem uma chance
de fazer aquilo que quer.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.

As pessoas mais felizes não tem as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor das oportunidades
que aparecem em seus caminhos.

A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem

a importância das pessoas que passaram por suas vidas

Clarice Lispector


Enviada por: Geane dos Santos Cruz
Aluna III etapa de EJA. 

Rodadas de Poemas


TRADUZIR-SE

Uma parte de mim 
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
alomoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.


Traduzir uma parte
na outra parte
_ que é uma questão
de vida ou morte _
será arte?

Ferreira Gullar 

Vídeo sugerido por: Da Silva

terça-feira, 27 de março de 2012

Rodadas de Poemas

 
O Tempo

A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa. 
Quando se vê, já são seis horas! 
Quando de vê, já é sexta-feira! 
Quando se vê, já é natal... 
Quando se vê, já terminou o ano... 
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida. 
Quando se vê passaram 50 anos! 
Agora é tarde demais para ser reprovado... 
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio. 
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas... 
Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo... 
E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo. 
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz. 
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.

Mário Quintana