terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Rodadas de Poema com Ferreira Gullar



De Ferreira Gullar
Poema Sujo – um fragmento: “Velocidades”
Parte VI


(...)


          E essa é a razão por que
          quando as pessoas se vão
                     (como em Alcântara)

apagam-se os sóis (os
          potes, os fogões)
          que delas recebiam o calor


          essa é a razão
          por que em São Luís
donde as pessoas não se foram
          ainda neste momento a cidade se move
          em seus muitos sistemas
          e velocidades
          pois quando um pote se quebra
          outro pote se faz
          outra cama se faz
          outra jarra se faz
          outro homem 
          se faz
para que não se extinga
          o fogo
          na cozinha da casa


O que eles falavam na cozinha
          ou no alpendre do sobrado
          (na Rua do Sol)
          saía pelas janelas


          se ouvia nos quartos de baixo
na casa vizinha, nos fundos da Movelaria
          (e vá alguém saber
          quanta coisa se fala numa cidade
          quantas vozes
          resvalam por esse intrincado labirinto
          de paredes e quartos e saguões, 
          de banheiros, de pátios, de quintais
                           vozes


          entre muros e plantas,
                           risos,
          que duram um segundo e se apagam)

(...)


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