domingo, 16 de dezembro de 2012

Rodadas de Poema com Ferreira Gullar



De Ferreira Gullar
Não há vagas



O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
- porque o poema, senhores,
está fechado:
“não há vagas”
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
O poema, senhores,
não fede
nem cheira

Um comentário:

  1. Me senti acolhido com o espaço poético do blog, muito bom! Ainda mais ao bater de frente com o grande Ferreira Gullar que sempre me inspira e encanta com seus versos!

    ResponderExcluir

Obrigada por participar deste blog.Volte e comente sempre!!!
Aqui você vai encontrar "Aquele Poema".