domingo, 23 de dezembro de 2012

Rodadas de Poema com Ferreira Gullar




De Ferreira Gullar
Poema Sujo – um fragmento: “Velocidades”
Parte V



         
 (...)
 E se nesse caso
é a sede a força de gravitação
          outras funções metabólicas
          outros centros geram
          como a sentina
          a cama
          ou a mesa de jantar
(sob uma luz encardida numa
          porta-e-janela da Rua da Alegria
          na época da guerra)
sem falar nos centros cívicos, nos centros
          espíritas, no Centro Cultural
Gonçalves Dias ou nos mercados de peixe,
          colégios, igrejas e prostíbulos,
          outros tantos centros do sistema
          em que o dia se move
(sempre em velocidades diferentes)
          sem sair do lugar.


          Porque
                   quando todos esses sóis se apagam
                   resta a cidade vazia
(como Alcântara)
no mesmo lugar.


          Porque
          diferentemente do sistema solar
          a esses sistemas
          não os sustém o sol e sim
          os corpos
          que em tomo dele giram:
          não os sustém a mesa
          mas a fome
          não os sustém a cama
          e sim o sono
          não os sustém o banco
          e sim o trabalho não pago

(...)

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