O Poeta da Roça
Sou fio
das mata, cantô da mão grosa
Trabaio na roça, de inverno e de estio
A minha chupana é tapada de barro
Só fumo cigarro de paia de mio.
Trabaio na roça, de inverno e de estio
A minha chupana é tapada de barro
Só fumo cigarro de paia de mio.
Sou poeta
das brenha, não faço o papé
De argum menestrê, ou errante cantô
Que veve vagando, com sua viola,
Cantando, pachola, à percura de amô.
De argum menestrê, ou errante cantô
Que veve vagando, com sua viola,
Cantando, pachola, à percura de amô.
Não tenho
sabença, pois nunca estudei,
Apenas eu seio o meu nome assiná.
Meu pai, coitadinho! vivia sem cobre,
E o fio do pobre não pode estudá.
Apenas eu seio o meu nome assiná.
Meu pai, coitadinho! vivia sem cobre,
E o fio do pobre não pode estudá.
Meu verso
rastero, singelo e sem graça,
Não entra na praça, no rico salão,
Meu verso só entra no campo da roça e dos eito
E às vezes, recordando feliz mocidade,
Canto uma sodade que mora em meu peito.
Não entra na praça, no rico salão,
Meu verso só entra no campo da roça e dos eito
E às vezes, recordando feliz mocidade,
Canto uma sodade que mora em meu peito.
Patativa
do Assaré
Antônio Gonçalves da
Silva, dito Patativa do Assaré.
Nasceu
a 5 de março de 1909 na Serra de Santana, pequena propriedade rural, no
município de Assaré, no Sul do Ceará. É o segundo filho de Pedro Gonçalves da
Silva e Maria Pereira da Silva. Foi casado com D. Belinha, de cujo consórcio
nasceram nove filhos. Publicou Inspiração Nordestina, em 1956, Cantos de
Patativa, em 1966. Em 1970, Figueiredo Filho publicou seus poemas comentados
Patativa do Assaré. Tem inúmeros folhetos de cordel e poemas publicados em
revistas e jornais. Patativa do Assaré era unanimidade no papel de poeta mais
popular do Brasil. Para chegar onde chegou, tinha uma receita prosaica: dizia
que para ser poeta não era preciso ser professor. 'Basta, no mês de maio,
recolher um poema em cada flor brotada nas árvores do seu sertão', declamava.
Como todo bom sertanejo, Patativa começou a
trabalhar duro na enxada ainda menino, mesmo tendo perdido um olho aos 4 anos.
No livro 'Cante lá que eu canto cá', o poeta dizia que no sertão enfrentava a
fome, a dor e a miséria, e que para 'ser poeta de vera é preciso ter
sofrimento'.
Patativa só passou seis meses na escola. Isso
não o impediu de ser Doutor Honoris Causa de pelo menos três universidades. Não
teve estudo, mas discutia com maestria a arte de versejar. Desde os 91 anos de
idade com a saúde abalada por uma queda e a memória começando a faltar,
Patativa dizia que não escrevia mais porque, ao longo de sua vida, 'já disse
tudo que tinha de dizer'. Patativa morreu em 08 de julho de 2002 na cidade que
lhe emprestava o nome.
Uma grande e merecida prova de que a poesia habita em todas as classes sociais, outro dos grandes mestres da poesia nacional, Patativa, sertanejo e imortal!
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