Tecendo
a Manhã
João
Cabral de Melo Neto
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.
Biografia de João Cabral de Melo
Neto:
João Cabral de Melo Neto (1920 -1999) foi um poeta brasileiro,
considerado um dos mais importantes da literatura brasileira e famosa pelo
livro “Morte e Vida Severina”.
Nasceu em Recife-PE. Estudou Direito e ingressou na carreira diplomata.
Publicou o seu primeiro livro em 1942, “Pedra do Sono”, no qual já mostrava seu
estilo poético rígido e uma composição extremamente madura.
Viveu durante um tempo na Espanha a serviço da diplomacia, e lá, adquiriu
influência do estilo poético do realismo espanhol. Além da Espanha, viveu
também nos EUA.
Em 1992, começa a sofrer de cegueira progressiva, doença que o leva à
depressão. Em 1993, recebeu o Prêmio Jabuti, pela Câmara Brasileira do Livro.
Morreu em 1999, vítima de ataque cardíaco, no Rio de Janeiro.
Bom mote escolhido por João, o galo e em torno dele ele constrói um cenário pulsante de vida e destaca a importância do agrupamento humano nesta grande festa chamada vida! beleza de poesia! Linda como uma manhã radiosa aqui desse nosso sertão!
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