A Carlos Drummond de Andrade
João Cabral de Melo Neto
Não há guarda-chuva
contra o poema
subindo de regiões onde tudo é surpresa
como uma flor mesmo num canteiro.
Não há guarda-chuva
contra o amor
que mastiga e cospe como qualquer boca,
que tritura como um desastre.
Não há guarda-chuva
contra o tédio:
o tédio das quatro paredes, das quatro
estações, dos quatro pontos cardeais.
Não há guarda-chuva
contra o mundo
cada dia devorado nos jornais
sob as espécies de papel e tinta.
Não há guarda-chuva
contra o tempo,
rio fluindo sob a casa, correnteza
carregando os dias, os cabelos.
Texto extraído do livro "João Cabral de Melo Neto - Obra completa", Editora Nova Aguilar - Rio de Janeiro, 1994, pág. 79.
Os pequenos atos que executamos sao melhores que todos aqueles que planejamos e nao colocamos em pratica. Obrigado por este blog
ResponderExcluirEsses gigantes da poesia, deveriam ter tido uma vida mais longeva, sempre fico admirado da percepção deles a respeito da dinâmica da vida, que em parte é uma de minhas crenças, crença de que a vida é movimento, como um slogan de um grupo de estudantes que em uma determinada época ganharam um Diretório Acadêmico de um certo campus universitário contra todos os prognósticos e o slogan era; "o movimento cria espaço". A vida é dinâmica e espaçosa, até mesmo quando a vivemos em toda plenitude e por muito tempo, até mesmo quando desocupamos essa dimensão e criamos espaço para novos seres humanos. Grande João Cabral de Melo Neto!
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