O
GONDOLEIRO DO AMOR
Teus
olhos são negros, negros,
Como as noites sem luar...
São ardentes, são profundos,
Como o negrume do mar;
Como as noites sem luar...
São ardentes, são profundos,
Como o negrume do mar;
Sobre
o barco dos amores,
Da vida boiando à flor,
Douram teus olhos a fronte
do Gondoleiro do amor.
Da vida boiando à flor,
Douram teus olhos a fronte
do Gondoleiro do amor.
Tua
voz é a cavatina
Dos palácios de Sorrento,
Quando a praia beija a vaga,
Quando a vaga beija o vento;
Dos palácios de Sorrento,
Quando a praia beija a vaga,
Quando a vaga beija o vento;
E
como em noites de Itália,
Ama um canto o pescador,
Bebe a harmonia em teus cantos
O Gondoleiro do amor.
Ama um canto o pescador,
Bebe a harmonia em teus cantos
O Gondoleiro do amor.
Teu
sorriso é uma aurora,
Que o horizonte enrubesceu,
-Rosa aberta com o biquinho
Das aves rubras do céu.
Que o horizonte enrubesceu,
-Rosa aberta com o biquinho
Das aves rubras do céu.
Nas
tempestades da vida
Das rajadas no furor,
Foi-se a noite, tem auroras
O Gondoleiro do amor.
Das rajadas no furor,
Foi-se a noite, tem auroras
O Gondoleiro do amor.
Teu
seio é vaga dourada
Ao tíbio clarão da lua,
Que, ao murmúrio das volúpias,
Arqueja, palpita nua;
Ao tíbio clarão da lua,
Que, ao murmúrio das volúpias,
Arqueja, palpita nua;
Como
é doce, em pensamento,
Do teu colo no languor
Vogar, naufragar, perder-se
O Gondoleiro do amor!?...
Do teu colo no languor
Vogar, naufragar, perder-se
O Gondoleiro do amor!?...
Teu
amor na treva é - um astro,
No silêncio uma canção,
É brisa - nas calmarias,
É abrigo - no tufão;
No silêncio uma canção,
É brisa - nas calmarias,
É abrigo - no tufão;
Por
isso eu te amo querida,
Quer no prazer, quer na dor...
Rosa! Canto! Sombra! Estrela!
Do Gondoleiro do amor.
Quer no prazer, quer na dor...
Rosa! Canto! Sombra! Estrela!
Do Gondoleiro do amor.
CASTRO ALVES
Recife,
janeiro de 1867.
in Espumas Flutuantes - 1870.
in Espumas Flutuantes - 1870.
Referências
Italianas e os Olhos Negros da Amante Portuguesa
O poema é uma barcarola dedicada a Eugênia Câmara, atriz portuguesa
e o grande amor de Castro Alves.
O poema é uma barcarola dedicada a Eugênia Câmara, atriz portuguesa
e o grande amor de Castro Alves.
Uau! Que maravilha em manhã de sexta ler Castro Alves!
ResponderExcluirBom final de semana
Abraços.
Convido para que leia e comente “RIDE THE LIGHTNING” no http://jefhcardoso.blogspot.com/
O grande e iluminado poeta baiano, apesar de ter tido uma breve existência, foi luminoso como um cometa de grandeza maior, as vezes fico pensando de forma admirada, como alguém 300 anos antes da abolição da escravidão humana, lançar altos brados de que aquele modelo estava errado e que os irmãos negros eram nada mais nada menos que humanos também. Belíssima e corajosa atitude! Mas, voltemos ao poema, a musa em questão devia ser alguém de singular atração, pois inspirou ao poeta, versos imortais! Devem estar juntos no paraíso da poesia certamente!
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