segunda-feira, 23 de abril de 2012

Rodadas de Poemas com Drummond


Consolo na Praia 

Vamos, não chores.
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.


O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.


Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis carro, navio, terra.
Mas tens um cão.


Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humour?


A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.


Tudo somado, devias
precipitar-te, de vez, nas águas.
Estás nu na areia, no vento…
Dorme, meu filho.


Carlos Drummond de Andrade

Um comentário:

  1. Estou começando a torcer para que a temporada de Drummond dure pelo menos até o São João e ai a gente vai poder matar as saudades no arraiá do outro lado do rio, neste poema sinto uma certa melancolia do autor, talvez por ele estar frente a frente com o mar e contemplar o mar sempre nos despertar o lado das reflexões, meio isolado o personagem da poesia, parece que ele teve só perdas na vida ao ponto de sentir-se nu e ao vento e ter como única opção o lançar-se de vez e por uma última vez ao mar, pobre homem...

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