sábado, 21 de abril de 2012

Rodadas de Poemas com Drummond


Não se mate
Carlos, sossegue, o amor
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe
o que será.

Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, oh não se mate,
Reserve-se todo para
as bodas que ninguém sabe
quando virão,
se é que virão.

O amor, Carlos, você telúrico,
a noite passou em você,
e os recalques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável,
rezas,
vitrolas,
santos que se persignam,
anúncios do melhor sabão,
barulho que ninguém sabe
de quê, praquê.

Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
O amor no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos,
mas não diga nada a ninguém,
ninguém sabe nem saberá.

Carlos Drummond de Andrade

Um comentário:

  1. Esse nosso poeta, de qualidade maior, era capaz de escrever sobre tudo, até sobre a melancolia que o próprio amor é capaz de produzir, o amor dessa poesia, vou colocar um pouco de ousadia na minha pretensa capacidade de entender os versos de Drummond, esta poesia está na categoria dos amores platônicos, de capacidade imaginativa alvissareira e de praticidade nula, algo capaz de inspirar ao personagem da poesia, um possível suicídio... Inconveniente ao mundo da poesia é claro! A vida é bela!

    ResponderExcluir

Obrigada por participar deste blog.Volte e comente sempre!!!
Aqui você vai encontrar "Aquele Poema".