Fui
muito criticado e ridicularizado quando jovem. O meu poema “No meio do
caminho”, composto de dez versos, repete de propósito sete vezes as palavras
“tinha” e “pedra”, e seis vezes as palavras “meio” e “caminho”. Isto foi
julgado escandaloso; hoje o poema está traduzido em 17 línguas, e me diverti publicando
um livro de 194 páginas contendo as descomposturas mais indignadas contra ele,
e também os elogios mais entusiásticos. Achavam-me idiota ou palhaço; suportei
os ataques porque ao mesmo tempo recebia o estímulo de meus companheiros de
geração e de pessoas mais velhas, nas quais depositava confiança, pela
capacidade intelectual e pela honestidade de julgamento que as distinguiam.
Atualmente,
a maioria das opiniões é favorável à minha poesia, e direi até que há talvez
excesso de benevolência com relação a ela. Não tenho pretensão de ser mestre em
coisa alguma, e conheço minhas limitações. Depois de praticar a literatura
durante mais de 60 anos, publicando 16 livros de prosa e 25 de poesia, não
cultivo ilusões, mas continuo acreditando com o mesmo fervor na beleza da palavra
e no texto elaborado com arte.
Acho
que a literatura, tal como as artes plásticas e a música, é uma das grandes consolações
da vida, e um dos modos de elevação do ser humano sobre a precariedade da sua
condição.
ANDRADE,
Carlos Drummond. Antologia poética,
São Paulo: Record, 1992.
Leitura do poema "No meio do caminho", de Carlos Drummond de Andrade, em 11 idiomas.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirGrande Carlos Drummond de escrita libertaria.
ResponderExcluirAbraços.
“Para o legítimo sonhador não há sonho frustrado, mas sim sonho em curso” (Jefhcardoso)
Convido para que leia e comente “REALIDADES SUBVERTIDAS” no http://jefhcardoso.blogspot.com/