domingo, 1 de abril de 2012

Rodadas de Poemas


VERDADE
 
A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.

Carlos Drummond de Andrade

Um comentário:

  1. Tenho saudades de Carlos Drummond, era um dos escritores preferidos de meu período colegial, os escritos dele são cristalinos, provavelmente como as inúmeras fontes de água e cachoeiras mineiras. Muito bom!E a "Verdade" descrita por ele, mais uma vez de maneira clara, se assemelha bem a uma de nossas metáforas regional que diz que; "Cada cabeça é um mundo..."

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