quarta-feira, 11 de abril de 2012

Rodadas de Poemas com Drummond


Os Ombros Suportam o Mundo
Carlos Drummond de Andrade

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.


Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.


Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

2 comentários:

  1. Para mim, Drummond deixou uma das maiores obras em língua portuguesa, ainda na minha opinião ele acariciava as palavras de maneira amorosa e elas retribuíam de maneira esplendorosa e apaixonadas, resultado, poesias como essa, que revelam o grau de maturação dos personagens em questão; Drummond & As palavras!

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  2. Mundo grande

    Não meu coração não e maior que o mundo.
    E muito menor.
    Nele não cabem nem as minhas dores.
    Por isso gosto tanto de me contar.
    Por isso mi dispo.
    Por isso me grito,
    Por isso frequento os jornais me exponho cruamente nas livrarias
    Preciso de todos.

    Calos Drummond de Andrade

    Aluna: Valdelice Gomes

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