sábado, 2 de fevereiro de 2013

Rodadas de Poemas com Adélia Prado



De Adélia Prado
Leitura



Era um quintal ensombrado, murado alto de pedras, 
As macieiras tinham maçãs temporãs, a casca vermelha 
de escuríssimo vinho, o gosto caprichado das coisas 
fora do seu tempo desejadas. 
Ao longo do muro eram talhas de barro. 
Eu comia maçãs, bebia a melhor água, sabendo 
que lá fora o mundo havia parado de calor. 
Depois encontrei meu pai, que me fez festa 
e não estava doente e nem tinha morrido, por isso ria, 
os lábios de novo e a cara circulados de sangue,
 caçava o que fazer pra gastar sua alegria: 
onde está meu formão, minha vara de pescar, 
cadê minha pinga, meu vidro de café? 
Eu sempre sonho que uma coisa gera, 
nunca nada está morto. 
O que não parece vivo, aduba. 
O que parece estático, espera. 

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