quarta-feira, 16 de julho de 2014

Rodadas de Poema com Pablo Neruda

De Pablo Neruda

Gosto quando te calas 


Gosto quando te calas porque estás como ausente,
e me ouves de longe, minha voz não te toca.
Parece que os olhos tivessem de ti voado
e parece que um beijo te fechara a boca.

Como todas as coisas estão cheias da minha alma
emerge das coisas, cheia da minha alma.
Borboleta de sonho, pareces com minha alma,
e te pareces com a palavra melancolia.

Gosto de ti quando calas e estás como distante.
E estás como que te queixando, borboleta em arrulho.
E me ouves de longe, e a minha voz não te alcança:
Deixa-me que me cale com o silêncio teu.

Deixa-me que te fale também com o teu silêncio
claro como uma lâmpada, simples como um anel.
És como a noite, calada e constelada.
Teu silêncio é de estrela, tão longinqüo e singelo.

Gosto de ti quando calas porque estás como ausente.
Distante e dolorosa como se tivesses morrido.
Uma palavra então, um sorriso bastam.
E eu estou alegre, alegre de que não seja verdade.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Rodadas de Poema com Pablo Neruda

De Pablo Neruda

Talvez 



Talvez não ser,
é ser sem que tu sejas,
sem que vás cortando
o meio dia com uma
flor azul,
sem que caminhes mais tarde
pela névoa e pelos tijolos,
sem essa luz que levas na mão
que, talvez, outros não verão dourada,
que talvez ninguém 
soube que crescia
como a origem vermelha da rosa,
sem que sejas, enfim,
sem que viesses brusca, incitante
conhecer a minha vida,
rajada de roseira,
trigo do vento,

E desde então, sou porque tu és
E desde então és
sou e somos...
E por amor
Serei... Serás...Seremos...

sábado, 5 de julho de 2014

Rodadas de Poema com Pablo Neruda

De Pablo Neruda
O teu riso


Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.

Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.

À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera , amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Rodadas de Poema com Pablo Neruda

De Pablo Neruda

Quero que saibas uma coisa.



Tu sabes como é:
se olho a lua de cristal, os galhos vermelhos do outono em minha janela, 
se toco junto ao fogo as impalpáveis cinzas
no corpo retorcido da lenha,
tudo me leva a ti,
como se tudo o que existe:
aromas, luz, metais,
fossem pequenos barcos que navegam em direção às ilhas tuas que esperam por mim.

Agora, bem,
se pouco a pouco tu deixares de me querer
pararei de te querer 
pouco a pouco.

Se de repente me esqueceres
não me procure, 
pois já terei te esquecido.

Se consideras violento e louco o vento das bandeiras que passa por minha vida
e decidires me deixar às margens do coração no qual tenho raízes,
lembra-te
que nesta dia,
a esta hora
levantarei os braços e minhas raízes partirão em busca de outra terra.

Mas
se em cada dia,
cada hora,
sentires que a mim estás destinado com implacável doçura,
se em cada dia levantares uma flor em teus lábios para me buscares,
oh meu amor, oh minha vida,
em mim todo esse fogo se reacenderá,
em mim nada se apaga ou se esquece,
meu amor se nutre do seu, amado,
e enquanto viveres 
estará em teus braços
sem deixar os meus.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Rodadas de Poema com Pablo Neruda

De Pablo Neruda

Ao Crepúsculo



Não...
Depois de te amar eu não posso amar mais ninguém.
De que me importa se as ruas estão cheias de homens esbanjando beleza e promessas ao alcance das mãos;
Se tu já não me queres, é funda e sem remédio a minha solidão.
Era tão fácil ser feliz quando estavas comigo.
Quantas vezes vezes sem motivo nenhum, ouvi teu riso, rindo feliz, como um guizo em tua boca.
E a todo momento, mesmo sem te beijar, eu estava te beijando...
Com as mãos, com os olhos, com o pensamento, numa ansiedade louca.
Nosso olhos, ah meu deus, os nossos olhos...
Eram os meus nos teus e os teus nos meus como olhos que dizem adeus.
Não era adeus no entanto, o que estava vivendo nos meus olhos e nos teus,
Era extase, ternura, infinito langor.
Era uma estranha, uma esquisita misturade ternura com ternura, em um mesmo olhar de amor.
Ainda ontem, cada instante uma nova espera,
Deslumbramento, alegria exuberante e sem limite.
E de repente... de repente eu me sinto como um velho muro.
Cheio de eras, embora a luz do sol num delírio palpite.
Não, depois de te amar assim,
Como um deus, como um louco,
nada me bastará e se tudo tão pouco,
Eu deveria morrer.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Rodadas de Poema com Pablo Neruda

De Pablo Neruda

A dança



Não te amo como se fosse rosa de sal, topázio 
ou flecha de cravos que propagam o fogo: 
te amo secretamente, entre a sombra e a alma.

Te amo como a planta que não floresce e leva 
dentro de si, oculta, a luz daquelas flores, 
e graças a teu amor vive escuro em meu corpo 
o apertado aroma que ascender da terra.

Te amo sem saber como, nem quando, nem onde, 
te amo diretamente sem problemas nem orgulho: 
assim te amo porque não sei amar de outra maneira, 

Se não assim deste modo em que não sou nem és 
tão perto que a tua mão sobre meu peito é minha 
tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.

terça-feira, 1 de julho de 2014

Rodadas de Poema com Pablo Neruda

De Pablo Neruda
Se Me Esqueceres


Quero que saibas 
uma coisa.

Sabes como é:
se olho
a lua de cristal, o ramo vermelho
do lento outono à minha janela,
se toco
junto do lume
a impalpável cinza
ou o enrugado corpo da lenha,
tudo me leva para ti,
como se tudo o que existe,
aromas, luz, metais,
fosse pequenos barcos que navegam
até às tuas ilhas que me esperam.

Mas agora,
se pouco a pouco me deixas de amar
deixarei de te amar pouco a pouco.

Se de súbito
me esqueceres
não me procures,
porque já te terei esquecido.

Se julgas que é vasto e louco
o vento de bandeiras
que passa pela minha vida
e te resolves
a deixar-me na margem
do coração em que tenho raízes,
pensa
que nesse dia,
a essa hora
levantarei os braços
e as minhas raízes sairão
em busca de outra terra.

Porém
se todos os dias,
a toda a hora,
te sentes destinada a mim
com doçura implacável,
se todos os dias uma flor
uma flor te sobe aos lábios à minha procura,
ai meu amor, ai minha amada,
em mim todo esse fogo se repete,
em mim nada se apaga nem se esquece,
o meu amor alimenta-se do teu amor,
e enquanto viveres estará nos teus braços
sem sair dos meus.

Pablo Neruda, in "Poemas de Amor de Pablo Neruda"

segunda-feira, 30 de junho de 2014

Rodadas de Poema com Pablo Neruda

De Pablo Neruda

É Proibido



É proibido chorar sem aprender,
Levantar-se um dia sem saber o que fazer
Ter medo de suas lembranças.

É proibido não rir dos problemas
Não lutar pelo que se quer,
Abandonar tudo por medo,

Não transformar sonhos em realidade.
É proibido não demonstrar amor
Fazer com que alguém pague por tuas dúvidas e mau-humor.
É proibido deixar os amigos

Não tentar compreender o que viveram juntos
Chamá-los somente quando necessita deles.
É proibido não ser você mesmo diante das pessoas,
Fingir que elas não te importam,

Ser gentil só para que se lembrem de você,
Esquecer aqueles que gostam de você.
É proibido não fazer as coisas por si mesmo,
Não crer em Deus e fazer seu destino,

Ter medo da vida e de seus compromissos,
Não viver cada dia como se fosse um último suspiro.
É proibido sentir saudades de alguém sem se alegrar,

Esquecer seus olhos, seu sorriso, só porque seus caminhos se
desencontraram,
Esquecer seu passado e pagá-lo com seu presente.
É proibido não tentar compreender as pessoas,
Pensar que as vidas deles valem mais que a sua,

Não saber que cada um tem seu caminho e sua sorte.
É proibido não criar sua história,
Deixar de dar graças a Deus por sua vida,

Não ter um momento para quem necessita de você,
Não compreender que o que a vida te dá, também te tira.
É proibido não buscar a felicidade,

Não viver sua vida com uma atitude positiva,
Não pensar que podemos ser melhores,
Não sentir que sem você este mundo não seria igual.

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Rodadas de Poema com Pablo Neruda

De Pablo Neruda 

Saudade





Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...

Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...

Saudade é sentir que existe o que não existe mais...

Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...

Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.

E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.

O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.


Biografia 

Pablo Neruda, pseudônimo de Neftalí Ricardo Reyes Basoalto, nasceu a 12 de julho de 1904, em Parral, no Chile. Poeta chileno, considerado um dos mais importantes literatos do século XX. Seu pseudônimo foi escolhido para homenagear o poeta tcheco Jan Neruda. Sua obra é lírica, plena de emoção e marcada por um acentuado humanismo. Em seu livro de estréia, com apenas 20 anos, Crepusculário (1923), já se assinou Pablo Neruda que, em 1946, passou a usar legalmente. Sua fama tornou-se maior com a publicação de vinte poemas de amor e uma canção desesperada (1924).

Alternando a vida literária com a diplomática, Pablo Neruda era o embaixador chileno na França quando ocorreu o golpe de Estado que depôs o presidente Salvador Allende. De volta ao Chile, sofreu perseguições políticas e morreu pouco depois, sendo enterrado em sua casa de Isla Negra, ao sul do Chile. Em sua obra destacam-se Residência na Terra (1933), España en el corazón (1937, inspirado na Guerra Civil Espanhola), Canto Geral (1950), Cem sonetos de amor (1959), Memorial de Isla Negra (1964), A espada incendiada (1970) e a autobiografia póstuma, Confesso que vivi (1974), um emocionante testemunho do tempo e das emoções de uma grande poeta.

Em 1971, Neruda recebeu o Prêmio Nobel de Literatura e o Prêmio Lênin da Paz. Antes havia sido agraciado com o Prêmio Nacional de Literatura (1945). Morre em 1973.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

O mundo da Poesia

Mais de 20 poemas inéditos de Pablo Neruda são encontrados em arquivos



Mais de 20 poemas inéditos do poeta Pablo Neruda foram encontrados durante uma revisão dos arquivos do autor por parte da Fundação Pablo Neruda, anunciou a editora Seix Barral, que os publicará no fim de 2014 na América Latina e no início de 2015 na Espanha.


 Segundo informou a editoria, os poemas foram encontrados em umas caixas que continham os manuscritos das obras de Pablo Neruda.  Segundo informou a editoria, os poemas foram encontrados em umas caixas que continham os manuscritos das obras de Pablo Neruda.

Segundo informou a editoria, os poemas foram encontrados em umas caixas que continham os manuscritos das obras do poeta, durante uma revisão exaustiva por parte da Biblioteca da Fundação Pablo Neruda, sob a direção de Darío Oses.


Nessa revisão, foi comprovado que alguns poemas manuscritos de extraordinária qualidade não tinham sido incluídos nas obras publicadas correspondentes a cada caixa.



A publicação desse material inédito de Neruda, o mais importante achado até agora do poeta, coincidirá com o 110º aniversário de nascimento do Prêmio Nobel e com o 90º aniversário da publicação de "Vinte poemas de amor e uma canção desesperada”.



Para a Seix Barral, a certificação da autoria desses mais de vinte poemas "os converte na maior descoberta das letras hispânicas nos últimos anos, um acontecimento literário de importância universal”.



A relevância dessa descoberta reside em que os poemas encontrados foram escritos posteriormente a "Canto geral” (1950), na época da maturidade de Pablo Neruda.

Previamente, só haviam aparecido dois trabalhos inéditos de Neruda: "O rio invisível” (Seix Barral, 1980), que incluía poesia e prosa de juventude, e seus poemas de adolescência, "Cadernos de Temuco” (Seix Barral, 1996).


O poeta e acadêmico Pere Gimferrer, que tem estado muito implicado na publicação desses inéditos, valoriza que nos novos poemas de Neruda encontramos "o poderio imaginativo, a transbordante plenitude expressiva e o mesmo dom, a paixão erótica ou o amor para a invectiva, a sátira ou o mínimo detalhe cotidiano convertido em poema”.



"Ou seja (se encontra) igualmente o Neruda de ‘Odes elementares’ e o Neruda de ‘A Barcalora’, o de ‘Memorial da Ilha Negra’ e inclusive o de ‘Estravagario’”, esclarece Gimferrer.



A Seix Barral antecipou um fragmento de um poema sem título, escrito em 1964, ano em que aparece "Memorial da Ilha Negra”, a grande recapitulação poética autobiográfica de Pablo Neruda ao completar sessenta anos:



"Reposa tu pura cadera y el arco de flechas mojadas/extiende en la noche los pétalos que forman tu forma/que suban tus piernas de arcilla el silencio y su clara escalera/peldaño a peldaño volando conmigo en el sueño/yo siento que asciendes entonces al árbol sombrío que canta en la sombra/Oscura es la noche del mundo sin ti amada mía,/y apenas diviso el origen, apenas comprendo el idioma,/con dificultades descifro las hojas de los eucaliptos”. 

"Repousa tua pura cadeira e o arco de flechas molhadas/ estende na noite as pétalas que formam tua forma/ que subam tuas pernas de argila o silêncio e sua clara escada/ degrau a degrau voando comigo no sonho/ eu sinto que ascendes então à árvore sombria que canta na sombra/ Escura é a noite do mundo sem ti amada minha,/ e apenas diviso a origem, apenas compreendo o idioma,/ com dificuldades decifro as folhas dos eucaliptos" (em tradução livre para o português).


Esse poema foi encontrado na Caixa 52, que contém materiais muito diversos. Os originais são mecanografados e não se achou uma versão manuscrita do mesmo, precisou a editora.

Fonte: Cubadebate

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Eu me chamo Antônio – Projeto “É hora de ler”

Eu me chamo Antônio – Projeto “É hora de ler”


Momento de Sensibilização "Projeto É hora de ler professor"
Formação de Coordenadores Pedagógicos - SEDUC - Juazeiro-BA.

sexta-feira, 14 de março de 2014

Homenagem Poética "14 de março dia da Poesia"

As duas flores
Castro Alves




S
ão duas flores unidas
São duas rosas nascidas
Talvez do mesmo arrebol,
Vivendo,no mesmo galho,
Da mesma gota de orvalho,
Do mesmo raio de sol.

Unidas, bem como as penas
das duas asas pequenas
De um passarinho do céu...
Como um casal de rolinhas,
Como a tribo de andorinhas
Da tarde no frouxo véu.

Unidas, bem como os prantos,
Que em parelha descem tantos
Das profundezas do olhar...
Como o suspiro e o desgosto,
Como as covinhas do rosto,
Como as estrelas do mar.

Unidas... Ai quem pudera
Numa eterna primavera
Viver, qual vive esta flor.
Juntar as rosas da vida
Na rama verde e florida,
Na verde rama do amor!



sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Aquele Poema "Eu me chamo Antonio"

E agora, Antônio?


Quando saio de casa, sempre levo um livro comigo, ou um poema, ou um texto curto. Algo que me faça ver palavras. Sim, ver palavras. Nem sempre tenho necessidade de ler, o que preciso é saber que ali – a um palmo de distância – existe uma junção de sílabas, uma lógica de letrinhas prontas para serem lidas.
O grande dilema é saber o que levar. Confesso que não sou muito criterioso. Parto do princípio de que, se o livro está na minha estante, é porque eu o comprei. Então, de alguma forma, ele me interessou: seja pela capa, seja pelo autor, seja por um poema específico, seja pelo impulso que a sociedade de consumo provoca. Ah, minhas fraquezas!
Não tenho apego ─ minha escolha é aleatória: quem estiver ao alcance das minhas mãos vem. E, se não quiser vir, eu puxo pelas orelhas mesmo. Sem dó. Se bem que esses dias o Manuel me negou. Não dei Bandeira. Estiquei os dedos um pouco mais e Carlos estava lá. Sorte que Drummond tem sido fiel companheiro e aceita com timidez eufórica os meus passeios. Saímos de Itabira e fomos a pé até o Arpoador em uma fração de poemas. Paramos em uma pequena lanchonete para reclamar dos preços abusivos, reabastecer o fôlego e matar a fome. Eu, carioca, pedi um sanduíche de queijo minas. Ele, mineirin, quis um carioquinha, o famoso café com um tiquinho de água quente. Um café mais ralo. Invertemos os papéis. (Os guardanapos?)
Poucas palavras foram ditas; outras tantas foram editadas pelo silêncio. Quando se é tímido, as frases ficam zanzando pela cordas vocais do caminho da fala, se arrastam pelo meio-fio e se perdem no céu da boca de um bueiro que a prefeitura se esqueceu de tapar. Ah, as fraquezas da cidade!
Depois de um breve silêncio
inter-calado
com uma longa pausa,
Ele me declamou:
E agora, Antônio? A criatividade sumiu? O guardanapo acabou? Não tem mais trocadilho? E agora, Antônio? Não quer mais beber? A cerveja está mais cara? A barriga não diminuiu? Por que não corre mais? E agora, Antônio? Quem o compartilha? Quem comenta no seu mural? Quem o curte? E agora, Antônio? O que você faz é poesia? É desenho? E agora, Antônio?
Já que eu não me chamo Raimundo, não sou uma rima, muito menos tenho uma solução, me escondi atrás das suas sete faces e voltei para casa como quem volta para a realidade. Fechei o livro. Torci para ninguém mais roubar seus óculos.
Pelas lentes da sua poesia, vejo a grandeza do seu mundo, mundo vasto mundo
e sem beber conhaque − ainda prefiro chope ─ me comovo com seus versos.
Eu não sou o diabo.
A nossa conversa ficou no meio do caminho.
Tinha um Pedro?


*PEDRO GABRIEL nasceu em N’Djamena, capital do Chade, em 1984. Filho de pai suíço e mãe brasileira, chegou ao Brasil aos 12 anos — e até os 13 não formulava uma frase completa em português. A partir da dificuldade na adaptação à língua portuguesa, que lhe exigiu muita observação tanto dos sons quanto da grafia das palavras, Pedro desenvolveu talento e sensibilidade raros para brincar com as letras. É formado em publicidade e propaganda pela ESPM-RJ e criador de “Eu me chamo Antônio”, perfil do Instagram e página do Facebook que deram origem ao livro Eu me chamo Antônio, lançado pela Intrínseca.



quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Aquele Poema "Eu me chamo Antonio"

Poemas, boemia e guardanapos

Livro reúne os "guardanapos poéticos" de Antônio e narra, entre versos e desenhos, uma aventura amorosa.

Antônio nasceu no balcão do Café Lamas, bar tradicional no Rio de Janeiro. “Depois de um longo dia de trabalho, eu decidi parar para tomar um chope e, enquanto esperava meu pedido, fiquei desenhando e escrevendo em um guardanapo”, conta Pedro Gabriel, lembrando outubro de 2012 quando a ideia surgiu.
Satisfeito com o resultado, Pedro fotografou e divulgou a arte criada. “Na semana seguinte, abri uma página na internet para ter um registro de todas as minhas criações até então”. Para assinar esses guardanapos poéticos, Pedro criou Antônio, um personagem boêmio e apaixonado. Intitulada Eu Me Chamo Antônio, a página logo viralizou no mundo online ganhando tumblr, instagram e blog.

“Primeiro, encanto./Depois, desencanto./Por fim, cada um pro seu canto”. São esses os dizeres do primeiro guardanapo poético divulgado por Pedro Gabriel. “Quando criei a página, nunca imaginei que ela fosse ganhar toda essa dimensão. Acredito que o visual atraente e o conteúdo que fala de sentimentos comuns de uma forma diferente tenham ajudado a fortalecer essa identificação”.

Sensível e verossímil, Antônio é um personagem que desperta nos leitores dúvida sobre a linha tênue que separa a realidade da ficção. “Ele é uma espécie de alter ego. Acredito que o Antônio seja a forma que encontrei para canalizar todos os meus sentimentos. Foi através dele e dos guardanapos que acabei criando coragem para expressar as palavras e os desenhos que não conseguia verbalizar de outra forma”.
Nascido na capital da República do Chade, na região centro-norte da África, Pedro Antônio Gabriel Anhorn chegou ao Brasil com 12 anos de idade. Filho de mãe brasileira e pai suíço, foi alfabetizado em francês e até os 13 anos não “formulava uma frase correta em português”. A partir da dificuldade na adaptação ao idioma, que lhe exigiu muita observação tanto dos sons quanto da grafia, Pedro diz ter desenvolvido encantamento ao brincar com as palavras.
 Antônio impresso
Aos 29 anos, Pedro é formado em publicidade e propaganda e agora lança seu primeiro livro, uma narrativa sobre um amor vivido por Antônio. Em 192 páginas, Eu me chamo Antônio transita por todas as fases de um relacionamento amoroso: com um discurso simples, mas nem sempre óbvio, o leitor acompanha os encontros e desencontros do personagem. “O grande desafio foi levar aos leitores uma nova forma de se encantar pelos guardanapos”, conta Pedro.

Segundo o autor, a publicação traduz para o universo offline o que é apresentado diariamente no mundo online de Antônio. “O livro traz duas formas de leitura. Você pode abrir o livro em uma página aleatória e ler como se fosse um poema do dia ou você pode ler os guardanapos de forma sequencial e enxergar um romance desenhado, no qual Antônio narra aventuras boêmias e amorosas”.
Na obra, os desenhos, fotos e tipografias se integram ao texto. De acordo com Cristiane Costa, pesquisadora do Programa Avançado de Cultura Contemporânea da UFRJ, Eu Me chamo Antônio faz parte de nova tendência literária chamada “visualwriting”. “Para as novas gerações está claro que o caminho da inovação literária passa pelo rompimento dessa barreira entre texto e visual”, afirma Cristiane. “Gosto da literatura levada na leveza. Da poesia que não quer ser poesia. Da poesia que quer dizer, que quer comunicar. Nesse sentido, quando vi o trabalho, me maravilhei”, reforça o escritor Marcelino Freire.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Aquele Poema "Eu me chamo Antonio"

Eu me chamo Antônio


Por André Bernardo

O nome dele é Pedro Gabriel Anhorn. Mas pode chamá-lo de Antônio. Aos 29 anos, ele é autor de uma das páginas do Facebook mais comentadas do momento: a Eu Me Chamo Antônio. Desde que postou seu primeiro guardanapo, em outubro do ano passado, já totaliza mais de 400 mil seguidores. E, a julgar pelo lançamento do livro ‘Eu Me Chamo Antônio’, esse número deve aumentar nos próximos dias.
Tudo começou numa noite chuvosa de outubro. Na volta para casa e depois de ficar quatro horas preso num engarrafamento, o redator publicitário resolveu dar uma esticada no Café Lamas, no bairro do Flamengo, Zona Sul do Rio de Janeiro, para espairecer. Lá, enquanto aguardava seu sanduíche de rosbife com queijo, começou a rabiscar em um guardanapo de papel.
"Primeiro, encanto. Depois, desencanto. Por fim, cada um pro seu canto" foi a poesia que saiu.
De volta ao Café Lamas, onde tudo começou e onde ele desenhou boa parte de seus mais de mil guardanapos, Pedro Gabriel analisa a evolução de seu traço ao longo de um ano de trabalho, atribui o sucesso na Web à simplicidade de seus versos e dá detalhes de seu livro, ‘Eu Me Chamo Antônio’.

Segue alguns trabalhos...









Leia mais em http://www.saraivaconteudo.com.br
Fonte: http://eumechamoantonio.tumblr.com/

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

O mundo da Poesia

McDonald’s vai distribuir livros de contos e poemas no McLanche Feliz



livros de contos e poemas mclanche feliz
McLanche Feliz traz em sua nova campanha livros de Contos e Poemas da literatura brasileira 

O McDonald’s convida seu público a mergulhar no mundo da literatura infantil brasileira, a partir de 25 de janeiro. A nova campanha do McLanche Feliz, “A turma do Ronald McDonald apresenta Contos e Poemas do Brasil”, conta com seis opções de livros assinados por renomados escritores da literatura brasileira.
“De noite no Bosque”, livro inédito de Ana Maria Machado, traz uma história que mistura vários contos infantis clássicos por meio da narração de dois irmãos. “A Casa O Pato”, de Vinicius de Moraes, apresenta dois poemas que foram escritos e musicalizados pelo autor. Coloridos e com ilustrações poéticas, cada opção também conta com passatempos, atividades e adesivos sobre as historinhas para inspirar ainda mais a imaginação e criatividade.
“As poesias e contos irão promover e prolongar a experiência de diversão em família para além do restaurante, propondo uma excelente oportunidade para pais e filhos passarem mais tempo juntos, contando e ouvindo as histórias”, reforça Isabela Almeida, Gerente de Marketing da Arcos Dourados, empresa que opera a marca McDonald’s na América Latina.
Segundo a escritora Ana Maria Machado, “projetos como esse são importantes porque incentivam a leitura no âmbito familiar, em momentos de lazer da criança. É preciso criar intimidade com o livro”, afirma. “Nos últimos 20 ou 25 anos, a escola tem exercido essa função de maneira mais acentuada e colocar o livro para a família é um movimento importante.”
“Você pergunta, a poesia responde” de Lalau, “O Farol e o Vaga-Lume” de Leticia Wierzchowski e Marcelo Pires, “Menino Qualquer” escrito por Caio Riter, e “A Voz da Minha Mãe” de Márcio Vasallo são os demais títulos de Contos e Poemas do Brasil que abordam variados temas.