Poemas, boemia
e guardanapos
Livro reúne os "guardanapos
poéticos" de Antônio e narra, entre versos e desenhos, uma aventura
amorosa.
Antônio nasceu no balcão do Café Lamas, bar tradicional no Rio de
Janeiro. “Depois de um longo dia de trabalho, eu decidi parar para tomar um
chope e, enquanto esperava meu pedido, fiquei desenhando e escrevendo em um
guardanapo”, conta Pedro Gabriel, lembrando outubro de 2012 quando a ideia
surgiu.
Satisfeito com o resultado, Pedro fotografou e divulgou a arte criada.
“Na semana seguinte, abri uma página na internet para ter um registro de todas
as minhas criações até então”. Para assinar esses guardanapos poéticos, Pedro
criou Antônio, um personagem boêmio e apaixonado. Intitulada Eu Me Chamo
Antônio, a página logo viralizou no mundo online ganhando tumblr, instagram e
blog.
“Primeiro, encanto./Depois, desencanto./Por fim, cada um pro seu canto”.
São esses os dizeres do primeiro guardanapo poético divulgado por Pedro
Gabriel. “Quando criei a página, nunca imaginei que ela fosse ganhar toda essa
dimensão. Acredito que o visual atraente e o conteúdo que fala de sentimentos
comuns de uma forma diferente tenham ajudado a fortalecer essa identificação”.
Sensível e verossímil, Antônio é um personagem que desperta nos leitores
dúvida sobre a linha tênue que separa a realidade da ficção. “Ele é uma espécie
de alter ego. Acredito que o Antônio seja a forma que encontrei para canalizar
todos os meus sentimentos. Foi através dele e dos guardanapos que acabei
criando coragem para expressar as palavras e os desenhos que não conseguia
verbalizar de outra forma”.
Nascido na capital da República do Chade, na região centro-norte da
África, Pedro Antônio Gabriel Anhorn chegou ao Brasil com 12 anos de idade.
Filho de mãe brasileira e pai suíço, foi alfabetizado em francês e até os 13
anos não “formulava uma frase correta em português”. A partir da dificuldade na
adaptação ao idioma, que lhe exigiu muita observação tanto dos sons quanto da
grafia, Pedro diz ter desenvolvido encantamento ao brincar com as palavras.
Antônio impresso
Aos 29 anos, Pedro é formado em publicidade e
propaganda e agora lança seu primeiro livro, uma narrativa sobre um amor vivido
por Antônio. Em 192 páginas, Eu me chamo Antônio transita por todas as fases de
um relacionamento amoroso: com um discurso simples, mas nem sempre óbvio, o
leitor acompanha os encontros e desencontros do personagem. “O grande desafio
foi levar aos leitores uma nova forma de se encantar pelos guardanapos”, conta
Pedro.
Segundo o autor, a publicação traduz para o universo offline o que é
apresentado diariamente no mundo online de Antônio. “O livro traz duas formas
de leitura. Você pode abrir o livro em uma página aleatória e ler como se fosse
um poema do dia ou você pode ler os guardanapos de forma sequencial e enxergar
um romance desenhado, no qual Antônio narra aventuras boêmias e amorosas”.
Na obra, os desenhos, fotos e tipografias se integram ao texto. De
acordo com Cristiane Costa, pesquisadora do Programa Avançado de Cultura
Contemporânea da UFRJ, Eu Me chamo Antônio faz parte de nova tendência
literária chamada “visualwriting”. “Para as novas gerações está claro que o
caminho da inovação literária passa pelo rompimento dessa barreira entre texto
e visual”, afirma Cristiane. “Gosto da literatura levada na leveza. Da poesia
que não quer ser poesia. Da poesia que quer dizer, que quer comunicar. Nesse
sentido, quando vi o trabalho, me maravilhei”, reforça o escritor Marcelino
Freire.
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