De Henriqueta Lisboa
Infância
Infância
E volta sempre a infância
com suas íntimas, fundas amarguras.
Oh! por que não esquecer
as amarguras
e somente lembrar o que foi suave
ao nosso coração de seis anos?
A misteriosa infância
ficou naquele quarto em desordem,
nos soluços de nossa mãe
junto ao leito onde arqueja uma criança;
ficou naquele quarto em desordem,
nos soluços de nossa mãe
junto ao leito onde arqueja uma criança;
nos sobrecenhos de nosso pai
examinando o termomêtro: a febre subiu;
e no beijo de despedida à irmãzinha
à hora mais fria da madrugada.
examinando o termomêtro: a febre subiu;
e no beijo de despedida à irmãzinha
à hora mais fria da madrugada.
A infância melancólica
ficou naqueles longos dias iguais,
a olhar o rio no quintal horas inteiras,
a ouvir o gemido dos bambus verde-negros
em luta sempre contra as ventanias!
ficou naqueles longos dias iguais,
a olhar o rio no quintal horas inteiras,
a ouvir o gemido dos bambus verde-negros
em luta sempre contra as ventanias!
A infância inquieta
ficou no medo da noite
quando a lamparina vacilava mortiça
e ao derredor tudo crescia escuro, escuro...
ficou no medo da noite
quando a lamparina vacilava mortiça
e ao derredor tudo crescia escuro, escuro...
A menininha ríspida
nunca disse a ninguém que tinha medo,
porém Deus sabe como seu coração batia no escuro,
Deus sabe como seu coração ficou para sempre diante da vida
— batendo, batendo assombrado!
Publicado: Prisioneiro da Noite (1941)
nunca disse a ninguém que tinha medo,
porém Deus sabe como seu coração batia no escuro,
Deus sabe como seu coração ficou para sempre diante da vida
— batendo, batendo assombrado!
Publicado: Prisioneiro da Noite (1941)
Biografia
Henriqueta Lisboa nasceu em Lambari, MG, em
15 de julho de 1901 e morreu em Belo Horizonte em 9 de outubro de 1985, filha
de João de Almeida Lisboa, deputado federal, e de Maria Rita Vilhena Lisboa.
Foi poeta, tradutora, ensaísta e, ainda, docente de literaturas
hispano-americana e brasileira e de literatura geral. Fez o curso normal no
Colégio Sion em Campanha, MG.
Mudou-se com a família para o Rio de Janeiro
em 1924. Seu primeiro livro de poemas, publicado em 1925, intitulava-se Fogo
fátuo, de tendência simbolista, traço marcante de sua obra até a década de
1940. Recebeu durante sua vida vários prêmios: em 1931, foi agraciada com o
Prêmio de Poesia Olavo Bilac da Academia Brasileira de Letras pelo livro
Enternecimento; em 1952, a Câmara Brasileira do Livro premiou seu livro
infantil Madrinha lua; pelo conjunto de sua obra obteve três prêmios, a Medalha
da Inconfidência de Minas Gerais em 1955, o Prêmio Brasília de Literatura em
1971 e o Prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras em 1984.
Sua extensa produção intelectual é composta
por ensaios literários, traduções, organização de antologias de poesias.
Colaborou com várias revistas editadas no Rio de Janeiro e Minas Gerais, entre
as quais O Malho, Revista da Semana, A Manhã, O Jornal, com a revista Kosmos e
com a revista Festa ao lado de Gilka Machado e Cecília Meireles. Foi membro do
Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais. Entre 1940 e 1945 manteve com
o escritor Mário de Andrade, uma vasta correspondência, onde discutiam temas
pessoais e literários.
Foi a primeira mulher eleita para a Academia
Mineira de Letras em 1963, onde ocupou a cadeira de nº 26. Sua poesia tornou-se
conhecida no exterior, sendo traduzida em várias línguas, como o francês,
inglês, italiano, espanhol, alemão e latim. Henriqueta Lisboa traduziu obras de
Dante, Guillén, Gabriela Mistral, entre outros. Em Senhorita X, encontramos o
poema Quando tenhas de vir, de sua autoria.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigada por participar deste blog.Volte e comente sempre!!!
Aqui você vai encontrar "Aquele Poema".