sexta-feira, 19 de julho de 2013

Rodadas de Poemas com Henriqueta Lisboa



De Henriqueta Lisboa
Infância

 

E volta sempre a infância
com suas íntimas, fundas amarguras.
Oh! por que não esquecer
as amarguras
e somente lembrar o que foi suave
ao nosso coração de seis anos?


A misteriosa infância
ficou naquele quarto em desordem,
nos soluços de nossa mãe
junto ao leito onde arqueja uma criança;


nos sobrecenhos de nosso pai
examinando o termomêtro: a febre subiu;
e no beijo de despedida à irmãzinha
à hora mais fria da madrugada.


A infância melancólica
ficou naqueles longos dias iguais,
a olhar o rio no quintal horas inteiras,
a ouvir o gemido dos bambus verde-negros
em luta sempre contra as ventanias!


A infância inquieta
ficou no medo da noite
quando a lamparina vacilava mortiça
e ao derredor tudo crescia escuro, escuro...


A menininha ríspida
nunca disse a ninguém que tinha medo,
porém Deus sabe como seu coração batia no escuro,
Deus sabe como seu coração ficou para sempre diante da vida
— batendo, batendo assombrado!


Publicado: Prisioneiro da Noite (1941)



Biografia
Henriqueta Lisboa nasceu em Lambari, MG, em 15 de julho de 1901 e morreu em Belo Horizonte em 9 de outubro de 1985, filha de João de Almeida Lisboa, deputado federal, e de Maria Rita Vilhena Lisboa. Foi poeta, tradutora, ensaísta e, ainda, docente de literaturas hispano-americana e brasileira e de literatura geral. Fez o curso normal no Colégio Sion em Campanha, MG.
Mudou-se com a família para o Rio de Janeiro em 1924. Seu primeiro livro de poemas, publicado em 1925, intitulava-se Fogo fátuo, de tendência simbolista, traço marcante de sua obra até a década de 1940. Recebeu durante sua vida vários prêmios: em 1931, foi agraciada com o Prêmio de Poesia Olavo Bilac da Academia Brasileira de Letras pelo livro Enternecimento; em 1952, a Câmara Brasileira do Livro premiou seu livro infantil Madrinha lua; pelo conjunto de sua obra obteve três prêmios, a Medalha da Inconfidência de Minas Gerais em 1955, o Prêmio Brasília de Literatura em 1971 e o Prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras em 1984.
Sua extensa produção intelectual é composta por ensaios literários, traduções, organização de antologias de poesias. Colaborou com várias revistas editadas no Rio de Janeiro e Minas Gerais, entre as quais O Malho, Revista da Semana, A Manhã, O Jornal, com a revista Kosmos e com a revista Festa ao lado de Gilka Machado e Cecília Meireles. Foi membro do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais. Entre 1940 e 1945 manteve com o escritor Mário de Andrade, uma vasta correspondência, onde discutiam temas pessoais e literários.
Foi a primeira mulher eleita para a Academia Mineira de Letras em 1963, onde ocupou a cadeira de nº 26. Sua poesia tornou-se conhecida no exterior, sendo traduzida em várias línguas, como o francês, inglês, italiano, espanhol, alemão e latim. Henriqueta Lisboa traduziu obras de Dante, Guillén, Gabriela Mistral, entre outros. Em Senhorita X, encontramos o poema Quando tenhas de vir, de sua autoria.




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