Não me deixes!
Gonçalves Dias
Debruçada nas águas dum regato
A flor dizia em vão
À corrente, onde bela se mirava:
"Ai, não me deixes, não!
"Comigo fica ou leva-me contigo
"Dos mares à amplidão;
"Límpido ou turvo, te amarei constante;
"Mas não me deixes, não!"
E a corrente passava; novas águas
Após as outras vão;
E a flor sempre a dizer curva na fonte:
"Ai, não me deixes, não!"
E das águas que fogem incessantes
À eterna sucessão
Dizia sempre a flor, e sempre embalde:
"Ai, não me deixes, não!"
Por fim desfalecida e a cor murchada,
Quase a lamber o chão,
Buscava inda a corrente por dizer-lhe
Que a não deixasse, não.
A corrente impiedosa a flor enleia,
Leva-a do seu torrão;
A afundar-se dizia a pobrezinha:
"Não me deixaste, não!"
Sobre o poeta:
Gonçalves Dias (1823-1864) foi poeta e teatrólogo brasileiro. É lembrado
como o grande poeta indianista da geração romântica. Deu romantismo ao
tema índio e uma feição nacional à sua literatura. Lembrado também como
um dos melhores poetas líricos da literatura brasileira.. Nascido no Maranhão em 1823, era
filho de um comerciante português. Foi muito jovem para Portugal estudar
direito, voltando ao Brasil em 1845. Aqui, ocupou diversos cargos de
importância. Fez várias viagens à Europa em missões para coleta de documentos
nos arquivos de lá. Na última viagem que fez ao continente europeu, o navio
naufragou no litoral maranhense ocasionado a morte do poeta. Apesar da vida
curta, Gonçalves Dias foi o poeta que consolidou o movimento romântico no
Brasil. Foi o poeta desse movimento que melhor conseguiu equilibrar os temas
sentimentais com uma linguagem relativamente simples, fugindo dos exageros
declamatórios. Sua obra articula-se em torno de quatro assuntos principais: o
índio, a natureza, a saudade da pátria e o amor. Temas tipicamente românticos.
A valorização do índio representa um sentimento de reafirmação de uma
identidade nacional que foi consequência direta da Independência do país.
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