domingo, 11 de agosto de 2013

O mundo da Poesia



Livro para crianças reúne poemas 

de Manuel Bandeira

Livro relança 29 poesias do escritor Manuel Bandeira que trazem nos versos toda a leve densidade do universo infantil. Destinado a crianças, Berimbau e outros poemas é uma aventura sem idade.
                                              
                                               DIVULGAÇÃO / GRAÇA LIMA 

Ilustração de Graça Lima para "O Grilo", um dos 29 poemas reunidos no livro Berimbau
É absolutamente natural que a poesia de Manuel Bandeira (1886-1968) seja convocada a compor uma coletânea de poemas para crianças. Berimbau e outros poemas (Global Editora) revela a ligação natural dele com o universo próximo e afetivo das pequenas coisas, das brincadeiras, dos animais, das cantigas.

A visão de mundo dessas obras – mesmo não escritas para crianças – as gabarita para os miúdos. O livro relança 29 trabalhos do artista pernambucano, um dos maiores nomes da poesia brasileira modernista, em recortes que compreendem vários períodos de sua travessia literária.

Há, por exemplo, “Os Sapos” (Urra o sapo-boi:/“Meu pai foi rei” – “Foi!”/“Não foi!” – “Foi!” – “Não foi!”), lido por Ronald de Carvalho na Semana de 22, e também “Acalanto de John Talbot” (Dorme, meu filhinho,/Dorme sossegado./Dorme que a teu lado/Cantarei baixinho), escrito em agosto de 1942.

Todos eles ligados pelo sabor de um Recife – ou melhor, de um Nordeste – naqueles inícios de século XX onde soltar balão ainda era uma atividade ingênua (“Na Rua do Sabão”), o comércio na rua causava espanto e contentamento (“Os Camelôs”) ou ainda o comboio passando rápido era um evento (“Trem de ferro”).

A música, que também irriga a vida das crianças, está lá reconfigurada nas poesias de Berimbau – como “O anel que tu me destes” (em “O anel de vidro”), “Bão balalão” (em “Rondó do capitão”), “Café com pão” (em “Trem de ferro”) ou “Cai cai balão” (em “Na Rua do Sabão”).

Ademais das referências à própria infância do escritor, que percorrem todo o livro, é em “Cabedelo”, de 1928, onde há uma alusão em particular muita cara ao próprio Bandeira: “Viagem à roda do mundo/Numa casquinha de noz:/Estive em Cabedelo./Ó maninha, ó maninha/Tu não estavas comigo!...//– Estavas...?”.

Viagem à roda do mundo numa casquinha de noz era título de livro que, na infância de Bandeira, lhe fisgou a atenção pelos desenhos coloridos.

Em entrevista ao cronista Paulo Mendes Campos, em 1949, ele diz: “Creio mesmo que foi a minha primeira impressão, sensação profunda de poesia, o primeiro desejo de evasão do cotidiano”.

Nessa resposta, Bandeira põe em contato o mundo lúdico infantil com o universo particularmente múltiplo da estética literária. A relação já havia levado, inclusive, Sigmund Freud a dizer em conferência: “Cada criança que brinca se comporta como um poeta, na medida em que cria um mundo próprio, ou melhor, reorganiza seu mundo segundo uma nova ordem”.

“A infância é o caminho da construção artística de Manuel Bandeira, o meio para a descoberta de seu potencial criativo e o espaço que o deixou à vontade para experienciar a plenitude imaginativa na linguagem”, explica a doutora em Estudos da Linguagem, Rosiane Aguiar, no trabalho Das Cinzas a Pasárgada: a infância como itinerário na lírica bandeiriana.

O doutor em Teoria e História Literária pela Unicamp, Luciano Cavalcanti, segue interpretação equivalente em artigo que analisa também Carlos Drummond de Andrade: para ele, a infância na poética de Bandeira tem um certo poder transformador do mundo.

“O mundo infantil, com sua mágica, adquire esse poder de transformar a realidade em sonho, através do lúdico e do encantatório que é transfigurado no poema”, pontua.

A seleção foi feita pelo escritor Elias José e os desenhos - primorosos - pela ilustradora Graça Lima.

SERVIÇO

Berimbau e outros poemas
Autor: Manuel Bandeira
Organizador: Elias José
Ilustração: Graça Lima
Editora: Global
Preço médio: R$ 29

Saiba mais
 Bandeira no Ceará
O escritor Manuel Bandeira tinha 22 anos quando compôs a (ainda parnasiana) poesia “Verdes Mares”. Era um soneto, redigido em 1908, aqui mesmo no Ceará, quatro anos depois de ter sido diagnosticado com tuberculose. À procura de climas serranos, passou por Maranguape - mas acabou também em Quixeramobim. O poema retrata a chegada, numa embarcação, do eu lírico do poema ao Estado. Assim termina: “‘Verdes mares bravios . . .’/Cita um sujeito que jamais leu Alencar”. 



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