Livro para crianças reúne poemas
de Manuel Bandeira
Livro
relança 29 poesias do escritor Manuel Bandeira que trazem nos versos toda a
leve densidade do universo infantil. Destinado a crianças, Berimbau e outros
poemas é uma aventura sem idade.
DIVULGAÇÃO / GRAÇA
LIMA
Ilustração de Graça Lima para "O Grilo", um dos 29
poemas reunidos no livro Berimbau
É absolutamente natural que a poesia de Manuel
Bandeira (1886-1968) seja convocada a compor uma coletânea de poemas para
crianças. Berimbau e outros poemas (Global Editora) revela a ligação natural
dele com o universo próximo e afetivo das pequenas coisas, das brincadeiras,
dos animais, das cantigas.
A visão de mundo dessas obras – mesmo não
escritas para crianças – as gabarita para os miúdos. O livro relança 29
trabalhos do artista pernambucano, um dos maiores nomes da poesia brasileira
modernista, em recortes que compreendem vários períodos de sua travessia
literária.
Há, por exemplo, “Os Sapos” (Urra o
sapo-boi:/“Meu pai foi rei” – “Foi!”/“Não foi!” – “Foi!” – “Não foi!”), lido
por Ronald de Carvalho na Semana de 22, e também “Acalanto de John Talbot”
(Dorme, meu filhinho,/Dorme sossegado./Dorme que a teu lado/Cantarei baixinho),
escrito em agosto de 1942.
Todos eles ligados pelo sabor de um Recife – ou
melhor, de um Nordeste – naqueles inícios de século XX onde soltar balão ainda
era uma atividade ingênua (“Na Rua do Sabão”), o comércio na rua causava
espanto e contentamento (“Os Camelôs”) ou ainda o comboio passando rápido era
um evento (“Trem de ferro”).
A música, que também irriga a vida das crianças,
está lá reconfigurada nas poesias de Berimbau – como “O anel que tu me destes”
(em “O anel de vidro”), “Bão balalão” (em “Rondó do capitão”), “Café com pão”
(em “Trem de ferro”) ou “Cai cai balão” (em “Na Rua do Sabão”).
Ademais das referências à própria infância do
escritor, que percorrem todo o livro, é em “Cabedelo”, de 1928, onde há uma
alusão em particular muita cara ao próprio Bandeira: “Viagem à roda do
mundo/Numa casquinha de noz:/Estive em Cabedelo./Ó maninha, ó maninha/Tu não
estavas comigo!...//– Estavas...?”.
Viagem à roda do mundo numa casquinha de noz era
título de livro que, na infância de Bandeira, lhe fisgou a atenção pelos
desenhos coloridos.
Em entrevista ao cronista Paulo Mendes Campos, em
1949, ele diz: “Creio mesmo que foi a minha primeira impressão, sensação
profunda de poesia, o primeiro desejo de evasão do cotidiano”.
Nessa resposta, Bandeira põe em contato o mundo
lúdico infantil com o universo particularmente múltiplo da estética literária.
A relação já havia levado, inclusive, Sigmund Freud a dizer em conferência:
“Cada criança que brinca se comporta como um poeta, na medida em que cria um
mundo próprio, ou melhor, reorganiza seu mundo segundo uma nova ordem”.
“A infância é o caminho da construção artística
de Manuel Bandeira, o meio para a descoberta de seu potencial criativo e o
espaço que o deixou à vontade para experienciar a plenitude imaginativa na
linguagem”, explica a doutora em Estudos da Linguagem, Rosiane Aguiar, no
trabalho Das Cinzas a Pasárgada: a infância como itinerário na lírica
bandeiriana.
O doutor em Teoria e História Literária pela
Unicamp, Luciano Cavalcanti, segue interpretação equivalente em artigo que
analisa também Carlos Drummond de Andrade: para ele, a infância na poética de
Bandeira tem um certo poder transformador do mundo.
“O mundo infantil, com sua mágica, adquire esse
poder de transformar a realidade em sonho, através do lúdico e do encantatório
que é transfigurado no poema”, pontua.
A seleção foi feita pelo escritor Elias José e os
desenhos - primorosos - pela ilustradora Graça Lima.
Berimbau e outros poemas
Autor: Manuel
Bandeira
Organizador: Elias José
Ilustração:
Graça Lima
Editora: GlobalPreço médio: R$ 29
Saiba mais
Bandeira no Ceará
O escritor Manuel Bandeira tinha 22 anos quando
compôs a (ainda parnasiana) poesia “Verdes Mares”. Era um soneto, redigido em
1908, aqui mesmo no Ceará, quatro anos depois de ter sido diagnosticado com
tuberculose. À procura de climas serranos, passou por Maranguape - mas acabou
também em Quixeramobim. O poema retrata a chegada, numa embarcação, do eu
lírico do poema ao Estado. Assim termina: “‘Verdes mares bravios . . .’/Cita um
sujeito que jamais leu Alencar”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigada por participar deste blog.Volte e comente sempre!!!
Aqui você vai encontrar "Aquele Poema".