De Manoel de Barros
Oito
formas poéticas de curtir as férias
1
Não
posso mais saltar na areia que nem um
lambari que escapasse do anzol.
Não posso mais dançar e dar salto mortal nas chuvas.
Não posso mais subir na goiabeira do vizinho
para catar goiaba.
Agora eu passo as minhas férias a brincar com palavras.
Nesse brincar com palavras, posso até atravessar
o canal da Mancha a nado.
Eu posso até escalar o monte Aconcágua.
Posso até namorar a Vera Fischer.
Eu só precisaria para tanto de usar palavras.
Com elas eu praticarei aventuras impossíveis.
lambari que escapasse do anzol.
Não posso mais dançar e dar salto mortal nas chuvas.
Não posso mais subir na goiabeira do vizinho
para catar goiaba.
Agora eu passo as minhas férias a brincar com palavras.
Nesse brincar com palavras, posso até atravessar
o canal da Mancha a nado.
Eu posso até escalar o monte Aconcágua.
Posso até namorar a Vera Fischer.
Eu só precisaria para tanto de usar palavras.
Com elas eu praticarei aventuras impossíveis.
2
Agora,
que fazer com essa manhã desabrochada a pássaros?
que fazer com essa manhã desabrochada a pássaros?
3
Hoje
eu recebi procuração de um pássaro
para abrir a manhã e fechar o anoitecer.
Fiquei amoroso da natureza com essa distinção.
Não sei se vou dar conta.
para abrir a manhã e fechar o anoitecer.
Fiquei amoroso da natureza com essa distinção.
Não sei se vou dar conta.
4
Estou
sentado sobre uma pedra na beira de uma garça.
Ao lado de um rio escorre.
Na outra margem do rio, um cavalo pasta.
Atravesso o rio a nado para a outra margem
onde está o cavalo.
Monto em pelo no cavalo e saímos disparados pelos campos.
Essa aventura só posso fazer com palavras
porque palavra aceita tudo.
Ao lado de um rio escorre.
Na outra margem do rio, um cavalo pasta.
Atravesso o rio a nado para a outra margem
onde está o cavalo.
Monto em pelo no cavalo e saímos disparados pelos campos.
Essa aventura só posso fazer com palavras
porque palavra aceita tudo.
5
Nas
férias, meus sentidos
funcionam melhor do que a inteligência.
Eu vejo e transvejo tudo.
Os perfumes eu chego a escutar.
Dos sons eu apalpo as formas.
Misturo todos os sentidos.
E assim eu salvo as palavras que estejam
fatigadas de informar.
funcionam melhor do que a inteligência.
Eu vejo e transvejo tudo.
Os perfumes eu chego a escutar.
Dos sons eu apalpo as formas.
Misturo todos os sentidos.
E assim eu salvo as palavras que estejam
fatigadas de informar.
6
Achei
entre os índios terenas daqui a maneira
mais bela e poética de nomear as cores.
É assim:
Vermelho, sangue de arara
Verde, sangue de folha
Amarelo, sangue de sol
Azul, sangue do céu.
Então eu acrescentei: branco, sangue das garças.
mais bela e poética de nomear as cores.
É assim:
Vermelho, sangue de arara
Verde, sangue de folha
Amarelo, sangue de sol
Azul, sangue do céu.
Então eu acrescentei: branco, sangue das garças.
7
Um
menino tinha abundância de ser feliz.
Mas não era nem alegre.
Quando o menino viu aquela árvore afagar
os seus passarinhos, ele ficou bem alegre
e usou sua abundância de ser feliz.
Mas não era nem alegre.
Quando o menino viu aquela árvore afagar
os seus passarinhos, ele ficou bem alegre
e usou sua abundância de ser feliz.
8
O
último brinquedo que eu fiz de palavras
é assim:
O céu tem só três letras.
O sol tem só três letras.
O inseto é maior.
é assim:
O céu tem só três letras.
O sol tem só três letras.
O inseto é maior.
Poema escrito por Manoel especialmente para a edição da "Folhinha".
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigada por participar deste blog.Volte e comente sempre!!!
Aqui você vai encontrar "Aquele Poema".